Encarando a morte de frente

morte

Há tempos atrás conversava com amigos sobre vida e morte, filosofando sobre as possibilidades destas questões. Muitos argumentos eram colocados e debatíamos animadamente sobre elas visando enriquecer nosso conhecimento, em dado momento comentei que não tinha medo da morte, que a via como algo natural e o que realmente me causava certo temor é como ela poderia ocorrer, ou seja, não tinha medo de morrer mas me causava certo temor a forma como essa morte pudesse ocorrer, com possibilidades indo desde a tranquilidade dos que partem dormindo até os mais complicados acidentes.

No curso natural de nossa conversa foram colocados diversos pontos de vista e argumentações e uma delas me chamou muita atenção, um amigo disse “você diz que não tem medo, mas nunca viveu uma experiência de quase morte para saber”. Mantive minha opinião com muita tranquilidade e segurança, sendo realmente sincero com o que sentia, mas como não podia deixar de ser reconheci que sobre certo ponto de vista ele tinha razão e procurei pensar melhor sobre a questão. Depois de um tempo concluí que realmente não tinha, e também não queria ter vivido essa experiência para avalizar meu sentimento, mas mesmo assim me sentia tranquilo com minha posição.

A vida seguiu e com o tempo ela me aplicou uma de suas mais duras lições, me fazendo viver um processo de doença complicado que no seu período mais dramático quase fui a óbito quatro vezes e agora, de cabeça mais tranquila e em plena recuperação, lembrei-me daquela conversa sobre o assunto com meus amigos e refleti sobre minha posição. Cheguei a conclusão que mantenho minha forma de pensar, mas outras questões passaram a permear este contexto.

Passei a refletir sobre o sofrimento dos que estavam acompanhando esse processo, em especial, mas não apenas, os que estavam vivendo isso mais de perto e na rotina do dia a dia. Meus pais que já tinham perdido uma criança logo após seu nascimento, uma filha que marcou suas vidas mesmo estando tão pouco tempo junto a eles e neste momento eles viviam a possibilidade de perder um segundo filho, minha irmã que sentiu muito todo o processo se desdobrando para ajudar no que podia, minha sobrinha que com pouquíssimos anos de vida e na sua inocência infantil pulou sete ondas pedindo que o tio sarasse e enviou pela minha irmã o seu brinquedo favorito para me alegrar, minha esposa e companheira que além de chegar a cochilar nas escadas do hospital esperando a hora de entrar no quarto viu literalmente minhas vísceras, já que minha terceira cirurgia fechou por segunda intenção e eu as tive expostas por um período, sem poder nem me virar na cama até que o corte cicatrizasse de dentro para fora e a que mais senti, minha filha, que além de lidar com a possibilidade do pai falecer com ela tão jovem não tinha permissão médica para ir me visitar (teve permissão especial apenas duas vezes em todo o processo) por ter risco a saúde dela já que eu tinha contraído infecção hospitalar.

Também pensei muito no que realizei até o momento comparado aos sonhos e desejos de realização que tenho, o que alcancei e o que almejo, fazendo uma espécie de balanço da minha vida e nesse quesito confesso que atingi muita coisa, mas ainda tenho muito mais a caminhar dentro das questões que busco realizar sejam elas materiais, afetivas, espirituais, profissionais ou em qualquer outro aspecto da vida, mas principalmente todas as questões que ainda tenho a ensinar para minha filha que é a coisa que mais amo nesta vida.

Todo esse processo me fragilizou, mas também me fez crescer, criar casca, me deixou mais forte mesmo deixando suas cicatrizes durante o caminho. Agora de cabeça erguida sigo ainda mais determinado e experiente rumo aos objetivos de vida.

Paz e Luz

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