É como se o corpo estivesse em um quarto escuro, mas a mente numa avenida iluminada por letreiros piscando, buzinas, vozes e alertas de todos os tipos. A ansiedade, para muitos, é exatamente isso, uma sensação constante de que há algo prestes a acontecer, mesmo quando tudo à volta está aparentemente em paz. E quando esse estado se prolonga, o que era um sinal natural de alerta se transforma num cansaço profundo, numa exaustão silenciosa. A mente simplesmente não consegue desligar.
Vivemos numa época em que estar ocupado virou sinônimo de ser produtivo, onde responder mensagens em segundos virou prova de competência, e descansar quase parece um pecado. Nessa cultura da alta performance, é fácil se perder. O excesso de estímulos, como notificações no celular, prazos apertados, comparações nas redes sociais, alimenta uma espécie de vigilância interna constante. É como se tivéssemos um alarme ligado o tempo todo, disparando mesmo quando não há perigo real.
A ansiedade tem muitas caras. Para alguns, ela aparece como uma inquietação física, seja coração acelerado, mãos suadas, insônia ou respiração curta. Para outros, se manifesta no pensamento, como uma preocupação que nunca termina, uma lista infinita de “e se” martelando na cabeça, entre outras. Tem quem conviva com um medo difuso, que não tem nome nem motivo certo, mas está sempre lá, como uma sombra. E o mais curioso é que, muitas vezes, quem sente isso tudo nem percebe que está ansioso. Vai levando no automático, achando que é só cansaço ou estresse.
Mas há uma diferença importante aí. O estresse geralmente tem um motivo claro e um fim. Você se estressa antes de uma apresentação importante, por exemplo. Já a ansiedade pode surgir do nada e permanecer mesmo quando tudo já passou. É como se o corpo não soubesse que pode relaxar. E isso tem um custo, tanto físico quanto emocional. Dormir mal, perder o apetite ou comer demais, não conseguir se concentrar, se irritar com facilidade. Tudo isso pode ser sinal de que algo dentro de nós está gritando por atenção.
Talvez você já tenha vivido algo assim: deitar para dormir e, de repente, lembrar de um e-mail que não respondeu, ou acordar no meio da noite com o coração disparado, sem saber por quê, ou sentir um aperto no peito ao pensar em coisas simples, como pegar trânsito ou participar de uma reunião. A ansiedade se infiltra nesses pequenos momentos e vai ganhando espaço, até que a gente começa a achar que viver assim é normal, mas não é.
É importante dizer que sentir ansiedade de vez em quando é absolutamente humano. Ela é um mecanismo natural que nos prepara para agir diante de ameaças. O problema está quando essa sensação deixa de ser uma reação pontual e vira um estado constante. Quando a mente nunca desliga, o corpo paga a conta.
Então o que fazer? Como se reconectar com um ritmo mais saudável? A primeira coisa é reconhecer que não dá para fazer tudo, nem estar em todos os lugares, nem responder a todas as expectativas, sejam elas nossas ou dos outros. Essa é uma tarefa difícil numa sociedade que valoriza a hiperprodutividade, mas é essencial.
A terapia entra aqui como um espaço seguro para respirar. Um lugar onde não é preciso performar, nem dar conta, nem parecer forte. É um ambiente de pausa, onde podemos olhar com mais gentileza para o que sentimos, entender de onde vêm essas cobranças internas, e, aos poucos, aprender a viver de forma mais presente e conectada consigo mesmo.
Um dos grandes equívocos é achar que a terapia serve apenas para “crises”. Pelo contrário, ela pode ser uma aliada poderosa na prevenção do sofrimento emocional. Quando a ansiedade ainda está no começo, silenciosa, quase imperceptível, é justamente o momento ideal para buscar ajuda. Porque quanto mais cedo se acolhe esse desconforto, menos ele precisa gritar.
Lidar com a ansiedade não significa eliminar todas as preocupações, mas aprender a diferenciá-las. É saber quando é a vida nos pedindo atenção, e quando é a mente projetando medos que nem são nossos. É encontrar um ritmo que seja possível sustentar sem se perder de si.
Se você sente que sua mente não consegue mais desligar, talvez seja hora de ouvir o que ela está tentando dizer. Ansiedade não é fraqueza, nem frescura, nem falta de fé. É um pedido do corpo por cuidado, e como todo pedido sincero, merece escuta e acolhimento.
No fim das contas, a cura começa quando a gente decide parar, mesmo que só um pouco, para se escutar. Porque às vezes, tudo o que a mente precisa é de silêncio. E tudo o que o coração precisa é de um lugar onde ele possa, finalmente, descansar.
Paz e Luz.