Arquétipos: O HeróiAproximadamente 5 min. de leitura

Leia o artigo

Desde muito cedo, escutamos histórias de heróis. Está nos contos de fadas, nos filmes, nos livros e, se prestarmos atenção, também está em cada um de nós. O arquétipo do Herói não é apenas sobre grandes feitos ou batalhas épicas. Ele fala sobre coragem, superação e, acima de tudo, transformação. É sobre aquele impulso profundo que nos move a enfrentar nossos medos e ir além do que achávamos ser possível.

Mas o que é, afinal, esse tal de arquétipo?

Arquétipo é uma palavra que pode soar estranha à primeira vista, mas a ideia é simples. Imagine que todos nós carregamos dentro de nós certas imagens, certos modelos que influenciam como pensamos, sentimos e agimos. Esses modelos são coletivos, ou seja, não vêm só da nossa história pessoal, mas fazem parte de uma espécie de memória da humanidade. Carl Jung1, o psiquiatra que popularizou esse conceito, dizia que os arquétipos são formas universais, presentes no inconsciente coletivo.

E entre todos os arquétipos, o do Herói é talvez o mais fácil de reconhecer. Ele está naquele que parte em jornada, enfrenta obstáculos, encontra aliados e inimigos, passa por provações e, ao final, retorna transformado, mais forte, mais consciente, mais inteiro. O Herói é aquele que se arrisca por algo maior. E essa “jornada do herói” não acontece só nos filmes, ela também acontece dentro de nós, nos desafios do dia a dia, nas decisões difíceis, nos momentos em que precisamos dar um passo que nos assusta, mas que sabemos ser necessário.

O Herói, como arquétipo, não nasce pronto. Ele precisa ser chamado. Tudo começa com um incômodo, uma sensação de que algo precisa mudar. Às vezes, é uma crise, uma perda, um conflito. Algo que tira o Herói da zona de conforto. E, a partir daí, ele parte, muitas vezes sem querer, hesitante, com medo.

No caminho, ele encontra obstáculos. Mas também encontra ajuda: mentores, amigos, sinais. O Herói cai, falha, duvida de si. Mas a cada queda, aprende algo. Ele vai, aos poucos, descobrindo sua força. No fim da jornada, ele não é mais o mesmo. Algo nele mudou e essa mudança, no fundo, é o que importa.

Esse percurso simbólico pode ser visto em grandes histórias da literatura e do cinema. Mas também pode ser sentido em experiências muito humanas, como lidar com uma doença, mudar de carreira, sair de um relacionamento abusivo ou criar um filho. O Herói não está apenas nas telas, ele vive em cada um de nós, cada vez que precisamos crescer diante de um desafio.

Um exemplo claro e acessível desse arquétipo está na figura de Harry Potter. Muita gente conhece sua história, mas talvez nem todos tenham se dado conta de como ela segue passo a passo a jornada do Herói.

Harry começa sua vida no “mundo comum”, vivendo com os tios que o maltratam. Ele se sente deslocado, diferente. E então, um dia, recebe a “chamada”: uma carta que o convida a entrar em um mundo mágico. Ele reluta, mas vai e ali começa sua jornada.

Ao longo da saga, Harry enfrenta provas que vão muito além das aulas de feitiçaria. Ele perde pessoas queridas, é confrontado com medos profundos, precisa tomar decisões difíceis. Ele luta contra Voldemort, sim, mas, mais que isso, ele luta contra suas próprias dúvidas, suas sombras, seu senso de inadequação.

Harry não faz tudo sozinho. Ele tem aliados, Hermione, Rony, Dumbledore, que o apoiam e, às vezes, também o confrontam. Isso é típico da jornada do Herói, ninguém caminha completamente só. E, pouco a pouco, Harry vai se tornando mais maduro, mais consciente de quem é e do que representa.

No fim, ele retorna ao “mundo comum”, mas já não é mais o mesmo garoto. Ele agora é alguém que passou pelo fogo e sobreviveu. Alguém que conhece o valor da amizade, do sacrifício e da verdade. Ele volta com algo precioso, a capacidade de proteger, de guiar, de amar, qualidades que ele conquistou por ter atravessado a própria escuridão.

Por que isso importa pra nós?

Pode parecer que tudo isso é só uma boa história, mas é muito mais do que isso. O arquétipo do Herói fala diretamente com nossas vivências. Em algum momento, todos nós somos chamados a sair do conforto e enfrentar algo difícil. E a forma como respondemos a esse chamado pode definir quem nos tornamos.

O Herói nos ensina que errar faz parte, que ter medo é natural, mas que seguir em frente é essencial. Ele nos lembra que somos mais fortes do que pensamos e que, mesmo nas situações mais desafiadoras, há crescimento possível.

Então, da próxima vez que estiver diante de uma decisão difícil, de um medo paralisante, de uma perda dolorosa, lembre-se: talvez você esteja no meio da sua própria jornada. E, como Harry, como tantos outros, pode ser que você esteja se tornando aquilo que nem imaginava ser capaz.

O Herói não é perfeito, mas é aquele que segue, apesar das imperfeições.

Paz e luz.

 

1 – Carl Gustav Jung (1875–1961) foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia analítica. Discípulo dissidente de Freud, Jung desenvolveu conceitos fundamentais como os arquétipos, o inconsciente coletivo e o processo de individuação. Sua abordagem valorizava os símbolos, os mitos e os sonhos como caminhos para compreender a psique humana em sua totalidade.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *