Todas as pessoas que transitam no meio espiritualista acabam tendo suas dúvidas de como separar o que é “viagem na maionese” da espiritualidade levada a sério. Não há regras fixas e certas para definir essa classificação, entretanto, passo agora a vocês algumas dicas que podem dar pistas para encontrarmos o nosso caminho.
No delírio místico temos a onipotência do eu, aquele sentimento de que: “eu posso tudo”, “eu faço”, “eu realizo tudo sozinho”, enquanto na espiritualidade temos a onipotência divina onde o “eu” em conjunto com o divino realizam o que desejo. Não há o eu sozinho, mas o eu em comunhão com o divino.
Ainda caracterizando o delírio místico, a pessoa acaba sendo prolixa, ou seja, dá inúmeras voltas sobre determinado assunto e não fala nada. Você pode até acreditar ser uma pessoa inteligente, mas naquele momento não consegue acompanhar o raciocínio. O que ocorre verdadeiramente é que a pessoa em delírio místico sofre de uma profunda confusão mental. Já na real espiritualidade as coisas são explicadas com clareza, simplicidade e discernimento.
Outro indicador importante é que no delírio místico o pensamento é mágico. Basta você acender uma velinha aqui ou um incenso ali, realizar um ritualzinho qualquer para a “divindade não sei das quantas” ou se direcionar ao sagrado “mestre fulaninho de tal” que todos os seus problemas estão resolvidos, como num passe de mágica. Transfere-se o problema e sua solução para o externo. Na espiritualidade, os problemas e as soluções estão em você, no seu autoconhecimento, no seu auto-desenvolvimento, nas suas atitudes e não no externo.
O fanatismo é outra característica. Quando a pessoa parte para essa faceta não se usa o discernimento para nada, se aceita cegamente tudo o que é passado e defendido com unhas e dentes. Nesse ponto a lógica e coerência simplesmente são deixadas de lado.
No espiritualismo sério temos os pontos fundamentados e explicados, com uma base coerente. Agora, nos delírios, as coisas são explicadas com frases como: “Isto é um desígnio de Deus”. Ou você acredita ou não acredita. Esse tipo de afirmação é extremamente simplista e não traz nenhum fundamento ou coerência para o que está sendo afirmado.
A base em superstições costuma ser outro alerta importante. Coisas como: gato preto dá azar, pé de coelho dá sorte, quebrar espelho dá azar, trevo de quatro folhas dá sorte, passar embaixo da escada dá azar e assim por diante, não trazem uma fundamentação clara, são simplesmente crendices populares e vão ter exatamente a importância que cada um de nós der ao fato. Já na espiritualidade, procura-se usar a sabedoria, tentando entender o porquê das coisas, de onde vem cada informação, onde cada coisa se fundamenta para a partir daí tomar suas decisões.
Podemos apontar ainda a adivinhação como um delírio místico e quando falo aqui de adivinhação, digo no sentido pejorativo da palavra, onde qualquer coisa é tida como verdade. Comparo-a com a escolha dos números da mega sena que funciona aleatoriamente; já, no espiritualismo temos a verdadeira intuição, nos conectamos com o Todo e extraimos dessa ligação as informações necessárias para a resolução de um problema, para o autoconhecimento.
Lembre-se de que esse texto é para dar dicas sobre essa situação que se mostra tão complexa e não para ser usado como “check list” definitivo e incontestável. Não quero, aqui, rotular quem é delirante místico ou espiritualista sério. Use da coerência e do discernimento em seu caminho e valha-se de ferramentas como essas que podem facilitar sua caminhada passando alertas importantes.
Paz e Luz
Bom texto! Gostei especialmente do parte sobre a “onipotência do eu”. Isso aparece no pensamento da Nova Era. Eu já vi alguns adeptos sofrerem de um narcisismo “esquizotérico”, onde a pessoa se coloca no centro do universo. É o contrário do pensamento religioso (principalmente oriental) autêntico: somos uma centelha de luz cindida de um Todo impessoal e transcendental. Isso é o respeito e o assombro diante de algum muito maior do que nós.
Obrigado José.
Eu diria que esse perfil de pessoas tem em todas as religiões ou vertentes espiritualistas, assim como tem pessoas sérias e em franco crescimento em cada uma delas.
Cada um se sente mais confortável em um caminho e o fazendo de maneira coerente e consistentemente tem muito a ganhar, seja qual for o caminho escolhido.