Quantas vezes você já se pegou deixando para depois algo importante? Ou então repetindo escolhas que parecem te levar sempre ao mesmo lugar, mesmo quando você sabe que deseja algo diferente? Esse movimento, tão comum no dia a dia, muitas vezes recebe o nome de autossabotagem.
À primeira vista, parece apenas falta de disciplina ou preguiça, mas quando olhamos mais de perto, percebemos que existe algo mais profundo, um padrão interno que age quase sem que a gente perceba, nos afastando da vida que gostaríamos de viver.
Autossabotagem não é só uma sequência de más escolhas. É como se fosse uma estratégia invisível, criada em algum momento da nossa história, que continua funcionando mesmo quando já não faz mais sentido.
Podemos citar como exemplo deixar uma oportunidade passar, que pode não ser simples indecisão, muitas vezes é uma forma de evitar o medo do julgamento, a sensação de não merecer ou até mesmo o temor de mudar de lugar na vida. Em outras palavras a autossabotagem aparece quando seguir adiante desperta ansiedades que parecem maiores do que o desejo de conquistar algo novo.
Na psicanálise, esses movimentos não são vistos como defeitos pessoais, mas como sintomas, sinais de que existe um conflito interno tentando se expressar. Muitas vezes, carregamos regras invisíveis aprendidas na infância, ideias como “não mereço”, “se eu tiver sucesso vou perder o amor de alguém”, “errar é imperdoável”, para citar alguns possíveis exemplos.
Assim, o que hoje aparece como procrastinação, autoabandono ou medo de se expor pode estar ligado a experiências emocionais antigas que ainda se repetem. Reconhecer isso não significa se prender ao passado, mas justamente ganhar clareza para poder escrever uma nova história.
No trabalho, você sabe que pode crescer, mas adia as tarefas mais importantes até que a chance desapareça. Não é preguiça, muitas vezes é o receio de se expor ou de perder a identidade que você tem hoje.
Nos relacionamentos, deseja proximidade, mas se afasta quando a intimidade aumenta. A repetição pode vir como defesa contra o medo de ser abandonado.
Na saúde, começa mudanças com entusiasmo, mas abandona tudo diante do primeiro deslize. O padrão “tudo ou nada” parece uma forma de evitar a frustração da mudança gradual.
Percebe como, em todos os exemplos, existe uma lógica por trás do comportamento? O problema não está apenas no que você faz, mas no que tenta evitar sentir.
Vamos esclarecer o padrão?
O primeiro passo não é “forçar uma mudança”, mas aprender a olhar com curiosidade para os próprios movimentos.
Alguns caminhos práticos que podemos observar:
Observar sem julgar: Anote quando a autossabotagem aparece. Quais eram os pensamentos, emoções e situações do momento?
Dar nome às emoções: Medo, vergonha, culpa, raiva. Nomear ajuda a reduzir a força automática delas.
Perguntar-se sobre os ganhos: O que, de alguma forma, você “ganha” mantendo o padrão? Às vezes é evitar responsabilidades, riscos ou a exposição.
Experimentar pequenas mudanças: Em vez de uma grande revolução, tente micro passos. Quinze minutos por dia dedicados àquilo que você evita já podem abrir novos caminhos.
Buscar ajuda terapêutica: Na análise, você encontra espaço para compreender de onde vêm esses padrões e como transformá-los. É um processo que dá sustentação para que as mudanças não sejam passageiras. (Saiba mais)
A autossabotagem não é um rótulo que diz quem você é. É apenas um padrão que, em algum momento, fez sentido. Hoje, talvez ele esteja mais te limitando do que protegendo.
O trabalho de esclarecimento abre espaço para que você escolha de maneira mais consciente. Continuar repetindo ou experimentar algo diferente? Não é sobre mudar tudo de uma vez, mas sobre começar a se aproximar da vida que você realmente deseja viver.
Paz e luz.