Segundo a ciência Deus não existe! Será?Aproximadamente 4 min. de leitura

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Você já deve ter ouvido alguém dizer que “segundo a ciência, Deus não existe”. Essa afirmação costuma aparecer em debates acalorados, como se a ciência tivesse dado a palavra final sobre o assunto. Mas será que a metodologia científica realmente pode provar ou negar a existência de Deus? Vamos refletir sobre isso.

Antes de mergulharmos nessa questão, precisamos entender como funciona a metodologia científica. Afinal, para saber se a ciência pode ou não responder sobre a existência de Deus, é fundamental conhecer suas ferramentas e limites.

A metodologia científica segue alguns passos bem definidos:

1 – Observação: Primeiro, observamos algum fenômeno da natureza que desperta nossa curiosidade ou levanta questões.

2 – Questionamento: Formulamos perguntas específicas sobre o que observamos. Por exemplo: “Por que isso acontece?” ou “Qual a relação entre esses elementos?”

3 – Hipótese: Criamos uma possível explicação para o fenômeno, algo que possa ser testado.
Experimentação: Realizamos testes controlados para verificar se nossa hipótese se sustenta ou não.

4 – Análise: Examinamos os dados obtidos nos experimentos, geralmente usando estatísticas e medições precisas.

5 – Conclusão: Chegamos a uma conclusão baseada nos resultados, que pode confirmar ou refutar nossa hipótese inicial.

6 – Comunicação: Compartilhamos os resultados com a comunidade científica para que outros possam repetir os experimentos e verificar se chegam às mesmas conclusões.

Esse método tem sido extremamente bem-sucedido para desvendar os mistérios do mundo natural, desde a gravidade até o funcionamento do DNA. Mas quando se trata da existência de Deus, encontramos um conflito fundamental.

O conflito está justamente na natureza do que a ciência pode investigar. A metodologia científica foi desenvolvida para estudar fenômenos naturais, observáveis e mensuráveis. Ela trabalha com coisas que podem ser testadas em laboratório, medidas com instrumentos ou observadas diretamente.

Deus, por definição nas principais tradições religiosas, é considerado um ser transcendente, que existe além do mundo físico. Como testar algo que, por definição, está além do mundo material? Como criar um experimento para detectar ou medir o transcendente?

Imagine tentar usar uma régua para medir o amor que você sente por alguém, ou uma balança para pesar a beleza de uma música. Parece absurdo, não é? Isso acontece porque estamos usando ferramentas desenvolvidas para um tipo de realidade (física) para tentar medir algo de natureza completamente diferente (emocional ou estética).

Da mesma forma, a metodologia científica não consegue provar nem negar a existência de Deus porque:

  • Não é possível pegar um pedaço de Deus e colocar em um tubo de ensaio para seguir com os testes;
  • Não é possível formular uma hipótese clara e testável sobre Deus que satisfaça os critérios científicos;
  • Não existem experimentos que possam detectar ou medir o transcendente;
  • Não há como repetir ou verificar resultados relacionados a experiências espirituais de forma objetiva.

O biólogo Stephen Jay Gould1 propôs o conceito de “magistérios não-sobrepostos”, sugerindo que ciência e religião lidam com aspectos diferentes da experiência humana. A ciência se ocupa de como o mundo físico funciona, enquanto a religião aborda questões de significado, propósito e valores.

Isso não significa que a fé seja irracional ou que a ciência seja limitada. Significa apenas que são formas diferentes de conhecimento, com métodos e objetivos distintos. A ciência é extraordinariamente bem-sucedida no que se propõe a fazer, mas não pode responder a todas as perguntas humanas.

Quando alguém afirma que “segundo a ciência, Deus não existe”, está fazendo uma afirmação que a própria metodologia científica não sustenta. Da mesma forma, usar textos religiosos para contestar teorias científicas bem estabelecidas também representa uma confusão entre domínios diferentes do conhecimento.

A postura mais honesta, tanto do ponto de vista científico quanto filosófico, é reconhecer que a existência ou não de Deus é uma questão que transcende o escopo da metodologia científica. A ciência não prova nem nega a existência de Deus – ela simplesmente não tem ferramentas para abordar essa questão específica.

Isso nos deixa livres para formar nossas próprias convicções com base em outros tipos de experiências e reflexões, sejam elas religiosas, filosóficas ou pessoais. E talvez seja justamente nessa liberdade que encontramos algo profundamente humano.

Paz e Luz.

 

1 – Stephen Jay Gould (1941-2002) foi um renomado paleontólogo, biólogo evolutivo e historiador da ciência americano. Professor na Universidade Harvard, ficou conhecido por suas contribuições à teoria da evolução e por sua habilidade em comunicar conceitos científicos complexos ao público geral. Propôs o conceito de “magistérios não-sobrepostos” (NOMA), sugerindo que ciência e religião são campos de conhecimento que não competem entre si por abordarem diferentes aspectos da experiência humana.

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