A experiência de cadeirante por um não cadeirante

cadeirante

Ao lançar um primeiro olhar no título desde texto é normal que um paradoxo se estabeleça em nossa cabeça: Como um não cadeirante pode falar da “experiência” de um cadeirante? Alem disso é importante mencionar que todos, ou pelo menos a maioria de nós, imagina essa dificuldade, e falo imagina, pois saber da situação e vivencia-la tem abrangências bem diferentes.

Para lançar luz sobre esta questão farei um breve resumo sobre minha situação. Tive um problema sério de saúde tendo passado por três cirurgias, ficando três dias em coma, um mês na UTI e mais quatro meses no isolamento por contrair bactérias no hospital. Essa situação acarretou em uma perda de peso de 100 kg para 40 kg, tendo perdido toda a massa muscular, alem de me alimentar apenas por sonda em função do meu problema se localizar no sistema digestório. Após esse período passei para internação domiciliar e em algum tempo saí da cama, comecei a me deslocar com a cadeira de rodas em função da perda de força muscular e habilidade motora.

A primeira situação, por mais simples que pareça, é se locomover pela casa e aqui é importante salientar que moro em um apartamento com área interna de 70m² que não é um grande apartamento, mas pensando no tamanho dos apartamentos atuais também não é pequeno, criando a situação de me deslocar sem a cadeira de rodas. Voltando a questão de me deslocar dentro de casa fico sentado no chão usando os braços e as pernas para ajudar nos movimentos de um lado para outro.

Ainda dentro de casa temos algumas outras situações que são tão corriqueiras que não percebemos, posso citar como exemplo ir comer na mesa da cozinha, onde é necessário ir utilizando os movimentos de deslocamento anteriormente descritos, chegar ao pé da cadeira e de alguma forma subir nela para me sentar, exatamente na mesma característica posso citar a questão para subir na cama, no vaso sanitário ou na cadeira de banho para entrar embaixo do chuveiro. Ainda dentro de casa posso citar uma atividade simples que consiste em atender o interfone, ou seja, chegar lá pelo deslocamento “sentado” e aí ter que alcançar o interfone que não está na altura de quem está sentado no chão.

Saindo de casa encaro outra situação que é bem mais perceptível, moro no segundo andar de um prédio baixo que consequentemente não tem elevador, me obrigando a subir e descer pelas escadas sentado, usando muito os braços para me erguer ou baixar em cada degrau e ao chegar à garagem tenho que subir do chão para o carro.

Outro ponto que se torna uma preocupação é visitar as pessoas, sempre existe a necessidade de verificar quais os obstáculos que serão encontrados, por exemplo, na casa da minha mãe existe um pequeno degrau de aproximadamente uns 10 cm da garagem para a sala. Quando vou lá entramos com o carro na garagem, o que facilita muito, ao descer do carro para a cadeira e entrar na casa me deparo com esse pequeno degrau, pequeno, mas que faz com que eu não consiga entrar sozinho, precisando de ajuda para suspender a cadeira e superar esse obstáculo.

Extrapolando essas saídas podemos citar calçadas, parques, restaurantes, barzinhos, nosso trabalho ou qualquer outro local público que desejemos frequentar em nosso dia a dia que apresentam os mais diversos obstáculos e dificuldades.

Claro que temos que nos adaptar e seguir em frente, sempre tive em mente que obstáculos servem apenas para serem ultrapassados, procurando ter a vida mais normal e inclusiva possível, sem nos abater, mas também é importante levantar essas questões para que as situações sejam o mais inclusivas possíveis.

Paz e Luz

4 thoughts on “A experiência de cadeirante por um não cadeirante

  1. Maria Isabel c camilo disse:

    Incrível seu relato, parabéns pela sua força e dedicação.

  2. José Roberto disse:

    Administrar dificuldades, vencer obstáculos, ser como o aço que se tempera no fogo e vencer com a grandeza de um forte. Essa é a lição que estas deixando para todos nós que a cada dia mais te admiramos. Que o Grande Arquiteto do Universo Te Ilumine e Guarde. TFA:.

    1. Obrigado José Roberto.
      A ideia é levantar um olhar sobre esses pequenos fatos do dia a dia que geram dificuldades para quem vive nesta situação e ao mesmo tempo incentivar a força de vontade para superar as próprias dificuldades.
      TFA:.

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