Recentemente foi ao ar uma reportagem no Fantástico onde o médico Drauzio Varela entrevista a trans Suzy Oliveira, abordando aspectos da dificuldade da vida dela dentro da cadeia que gerou grande repercussão e polemica, alem de declarações posteriores dos envolvidos.
Essa história passa por diversas vertentes e nuances, provocou grandes discussões e/ou divergências de posicionamentos e posturas acaloradas, passando pelo crime em si e sua punição, a dificuldade e preconceito com pessoas trans, o cumprimento da pena e a ressocialização que devem fazer parte do nosso sistema judiciário, o comportamento da população em relação a todos esses pontos, e todo esse conflito acontecendo até entre pessoas que tem grande afinidade e estima entre si.
Não há neste texto o intento de diminuir a gravidade do crime e muito menos perdoa-lo, o ato cometido com a criança de 9 anos foi hediondo e me parece que isso é mais que claro para a grande maioria e a declaração da mãe da criança perante essa situação é muito natural dado a grande dor que ela sentiu e ainda sente com a grande perda que sofreu, a questão é observar as atitudes da massa em volta e tecer observações pertinentes.
Após a exibição da reportagem houve empatia por parte dos telespectadores com Susy, pela sua história na prisão e esse sentimento teve uma grande reviravolta após vir à tona o motivo da prisão.
Em relação à produção da reportagem houve omissão proposital do motivo da prisão, talvez em função da linha editorial da matéria, ou falha na apuração dos fatos para a reportagem e nos dois casos isso é falha da Globo e seus profissionais envolvidos.
Em relação à Drauzio houve uma postura de empatia com o ser humano, não com o criminoso, não com a trans ou qualquer outro rotulo que você deseje atribuir e sim com um ser humano, sem julgar ou condenar, ele pretendia mostrar as dificuldades das pessoas naquela condição e não julga-las pelos seus crimes, conforme ele mesmo passou em comunicado após repercussão. Drausio é amplamente reconhecido por seu trabalho no sistema penitenciário sem julgar as pessoas pelo motivo de estarem ali.
Este cenário gerou grande movimentação de opiniões e em redes sociais podemos ver os mais diversos registros desta movimentação.
O fato que desejo destacar é a manifestação de ódio apresentado por muitos em função da matéria abordar um lado de sofrimento da detenta, e aqui não quero defender a criminosa.
É fato que ela cometeu um crime, por esse foi julgada, condenada e está pagando a pena conforme definição de nosso sistema judiciário. Você pode até argumentar que a pena não foi dura o suficiente, mas essa questão é discutível, pois a pena foi de 36 anos e houveram dois pedidos de redução que foram negados pela justiça, desta forma ela está “pagando” pelo ato cumprido segundo nossas leis.
A antipatia da população em geral por ela é muito natural e esperada, afinal matar alguém já é chocante, mas matar e estuprar uma criança é ainda pior e a revolta, alem de vários outros sentimentos, faz parte com ter que lidar com uma situação dessas, entretanto temos que ter em mente que destrinchar ódio não nos torna justos, mas talvez, adeptos do “olho por olho e dente por dente”.
Paz e Luz